AS FLORES DE LAYON

Por: Ivanise Junqueira Ferraz

Ao ser convidada para conhecer a obra de Layon, surpresa, deparo-me com o resultado final que se apresenta. Transgrido o ato de pensar atrelado à superação do artista que, com gestos simples, faz dos caules, pincéis; das pétalas, diferentes formas; da variedade, a emanação do perfume, refletindo a alma do artista, que se mostra no brilho, no tom, na cor.

 

A obra descortinada mais uma vez transcende toda forma de expressão, de concepção, e o mestre despojado de vaidade, na essência da humildade, retira da alma a plenitude da primavera, a suavidade do outono, a busca de um sonho e, generoso, nos presenteia com buquês de flores. Transparece a poesia de um poeta, a sinfonia de uma música.

 

As flores ganham vida e aroma. Questiono-me se ultrapassam meu olhar ou provocam em mim a transcendência do que vejo e viajo ao jardim incomparável onde se misturam desde flores silvestres a outras encantadoras.

 

As cores se mostram na obra: na bruma da aurora, as cores da harmonia, que animam a começar o dia; no calor escaldante de uma tarde de sol, as cores aquecem com o forte e o ousado e emanam energia; no entardecer, as cores da quietude do ser, a plenitude, a suavidade do descanso; na penumbra e na luz da noite, a busca dos sonhos e o encontro das cores nas flores que são estrelas e brilham no infinito.

 

O entendimento do artista ao oferecer quadros que retratam flores, distribuídas em vasos simples ou esmerados, jarros raros ou contemporâneos, cachepots variados, suportes singelos, como as flores que encantam as diferentes paisagens, vai de encontro ao desejo que grita no coração de homens, nos quais afloram a sensibilidade e desejam que a pátria revele aos que sonham por um mundo melhor a resposta para os anseios da alma.

 

Poucos são os homens com a sensibilidade de Layon. Criar uma obra delicada, de uma beleza infinita, capaz até mesmo de exalar o perfume que vem das flores mimosas e coloridas misturadas às cores.

 

Ao olhar cada quadro, uma vez mais me confunde se, na obra, a resposta que encontro vai de encontro à doçura e ao encanto que nos é repassado.

 

Abro gavetas onde se guardam as ideias de homens que sonham em conceber, dão vida a um projeto que faz renascer no espírito a esperança de um mundo melhor: sem antagonismos, brigas pelo poder e pelo consumismo.

 

Retiro das gavetas as sementes que tão bem o artista soube guardar. Semeou nos quadros, com abundância de cores e brilhos, com traços que se encontram ou se distanciam, marcam, limitam ou espalham, com timidez ou ousadia.

O que sobrou das sementes, quando o vento bater, se espalhará e cairá além das montanhas como no coração dos homens, e as flores serão ofertadas em abundância, sem fronteiras.

 

Busco Layon e encontro-o junto aos homens que sonham por um país mais justo, menos violento. Os sonhos desses homens misturam-se e passam a ser um só: almejam que as flores dividam quintais, ornamentem sacadas, enfeitem janelas. Singelas e presentes, que delimitem jardins, espaços, cidades, debrucem nas montanhas, ultrapassem fronteiras.

 

O jardim acima de volutas barrocas: violetas, lírios, dálias, jasmins, girassóis, rosas, antúrios, margaridas, begônias, sempre-vivas e tantas outras mais, que possam assistir nossas crianças com bandeiras e papagaios ao vento correrem livremente, como também aos velhos no descanso em cadeiras junto a frondosos arbustos.

 

E o desejo de Layon e tantos outros, assim como os meus, persiste; que as flores sejam portadoras da paz. Que os limites do ato de ir e vir sejam de cercas vivas, como buganvílias, camélias, azaleias, manacás.

 

Ao final, encontro resposta para as divagações. Ela está na casa de Elias, em seu próprio jardim, recanto de Conceição, Angélica e Aline, fontes inspiradoras de tanto primor e dádiva. As formas encontram-se e transparecem.Conceição, a companheira, de beleza sublime, doce e forte, presença marcante de uma orquídea incomparável. Angélica e Aline, belezas singulares, diferenciadas, na vivacidade da juventude ofertam tal quais as rosas perfumes suaves e luz para os ambientes.

 

Diante de tanta beleza, não tenho motivos para distanciar as flores da obra de Layon. Todas se completam. E o jardim será um só, como o sonho das pessoas que não desistem e acreditam que as flores podem ser plantadas por um Brasil melhor.

 

Finalmente, invadida pelo aroma e alegria incontidos, vejo no horizonte a promessa da inspiração e motivação para que, novamente, Layon, na generosidade que lhe é peculiar, nos oferte com outras obras, que certamente nos causarão surpresas e encantamentos.