Pintura como sonho real

Por: Ângelo Oswaldo de Araújo Santos

Elias Layon exercita sua mestria na pintura ao visitar a Casa dos Contos e registrar cada ângulo do edifício. Ao contrário do pintor postado diante da catedral para captar os jogos da luz, ele contempla as diferentes fachadas, surpreende os detalhes e as perspectivas do prédio monumental, deambula por todos os cômodos, atravessa corredores e pátios. Compõe, assim, uma série de flagrantes nos quais o gesto ágil e conciso revela, mais uma vez, o seguro transcriador de cenários históricos.

 

Instado por Eugênio Ferraz, guardião da casa de João Rodrigues de Macedo, a pintar a mais elegante das grandes arquiteturas civis do acervo colonial, Layon recolhe tributo inédito à velha sede da Real Fazenda em Ouro Preto. Sente-se a fascinação do autor pelo tema tratado. A cumplicidade de seu olhar com o casarão esplêndido faz com que se abram as portas, multiplicando-se as imagens, em ritmo veloz, que enreda o espectador e lhe toma o fôlego. Vem daí a variação das cores, a tensão das pinceladas, o corte expressionista.

 

Como a montanha na tela do pintor da montanha, a Casa dos Contos é agora pura pintura. Layon liberta sua imagem no universo pictórico, no qual se traduz a liturgia da cor. O artista celebra o seu poder mágico de apreender o visível num sonho imediatamente tornado real. Entremos nesse sonho, fruindo o belo e o seu mito.